Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

MADALENA!

Madalena!
Atiraram-me as pedras
pedras letárgicas
pedras tensas
pedra sobre pedra.

Não edificaram-me
até que as pedras esmagassem
meu rosto opaco, sem vida e sem roupão.

Gritaram todos na rua:
“Madalena, a prostituta vai à rua!”
Quem ao menos olhou a áurea no avesso da minha alma?
Viram-me somente como a mulher no meio da rua
A mulher que passa,
passa...
passa e o mundo apático sorri.

Queria ser a estrela da manhã
Nem que fosse ao Sacristão de Bandeira,
aos mendigos e ciganos.
Aceito por fim o destino
Madalena apedrejada, sem fé, sem amor.
Até a utopia zomba de meu tédio no meio da rua.

Caída e abandona Madalena dorme no oásis.
Cada pedra é o retrato de meu rosto esquecido
pedra que não se edifica
pedra sólida
pedra de memória
pedra rolada
pedra de crateras.

Madalena sorri, Madalena chora.
Madalena se exila do mundo.
As pedras perduraram e Madalena permanece como o eco das palavras:
Madalena lena Mada Mada lena lena lena....
Ma MADALENA
Da ena
Le lena
na... lena
lena... Madalena
ena

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