Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

sábado, 19 de setembro de 2009

CONFISSÕES E SANGRAMENTO

[OU SANGRAMENTO DA POESIA]


Arrasto e suplico
o estancar da ferida poética.
Súplica, vazio e efusiva completude
Contemplação e silêncio.
Pressinto-me sagrando, sangrando...
Eis que uma vaidade nua embriaga
a minha sede sagrada de gozos eternos.
Sempre quis a palavra sem pele
como se nela eu me entregasse sangrando.
A palavra que esmaguei outrora
insiste em ressuscitar.
Amasso-a sem me dar conta
do sangue que se escorre em nossas veias.
Arrombo a porta aberta da minha alma seca
Ajunto os cacos amalgamados do avesso esquerdo.
Rio, porque a denominava morta...
Libertei-me neste minuto.
Ponho-me em decúbito
Soluço de medo feito rato na luz.
A palavra
vai
vem
e volta...
Caída como se arrastada pelos vales
ela implora...
A sílaba chora e bate à minha porta, sangrando...
Eu viro as costas como quem nunca a tocou
Esta é a ingratidão de meu ego.
A palavra, enfim, sussurra em meus ouvidos.
Tento resistir ao contato e piso-a e jogo-a no lixo.
Sangro de paixão e lirismo quando ela quer partir
Arrependo-me e ajoelho a teus pés.
Eis a minha confissão, leitor:
agarro-a com loucura e lirismo
banho cada palavra de espumas
faço todas trocar os acessórios sensuais,
depois me visto diante delas na escuridão,
deixo-a nua e completamente sedenta de mim.
Mas o meu olhar tímido se esconde.
Vou à procura de cada instante eterno
Aguardo os versos que eu ainda irei escrever
no além-túmulo e noutras vidas,
onde a palavra amor estará no útero.
As outras palavras se mordem no elevador
sem nada dizer, sangrando, antes de ser poesia
até que minhas confissões se refaçam por acabadas.


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