Eis-me no instante eterno
inaudível
interdito
completo silêncio.
Descortino a imagem de mim
nos olhos e rastros duma multidão apática.
Aqui em meio ao guardanapo rasgado
a poesia quer nascer no raiar do lixo.
Há muito mais de estranho em mim neste minuto
que as notas cruas do silêncio e abandono.
Paira a sensação de rastejo
quando penso em meus olhos adoecidos
e nas vozes apressadas da multidão epifânica.
Todos vem assistir ao meu estado de lirismo despedaçado
Há mais pedaços de mim espalhados nas escórias do lixo
que mil estrelas no horizonte iluminando os pés
dos transeuntes nas calçadas no raiar do dia.
Um bêbado me olha e canta gargalhadas líricas
como se soubesse de minha longa procura
uma busca de mil anos de civilização.
A remissão
O inexistente
O latente
O inaudível
O indizível
O incomensurável.
Busco a minha própria alteridade
ainda que nascida do charco de lodo
do nada ou do poço das lesões da alma
de um burguês fracassado que amei.
Eis-me agora no palco dos detritos.
Meu Deus, por que me abandonaste?
Se tu sabias que eu era demasiadamente humana
Sabias que eu era fraca e vieste rasgar
os cacos dos guardanapos amassados no lixo:
o lixo sou eu aqui no poema que se desfaz em pedaços;
Há muito mais pedaços de mim espalhados em cada letra
que as pétalas da alma sangrando e banhando
os espinhos que começaram a virar roda do destino.
ROSIDELMA.
Um comentário:
Escrever parece muito com grafitar os nosso muros interiores. Tenho essa impressão quando leio o texto alheio. Não tão alheio, pois esta na rede. Mas é isso que vejo nos intertextos e intratextos do mundo. Os poetas estão em busca das palavras exatas, mas poesia tem tão pouco de exatidão. Vejo isso na voz que habita seus poemas.
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