A todos os grandes poetas do Piauí
Com o livro O fio do riso, de Ângela Lago que li na manhã de sábado, do dia 03
de dezembro, de 2011, organizei tantos outros livros e jornais e voei como
águia para Teresina. Dormi profundamente e às vinte e três horas ouvi a voz do
comissário de bordo a sobressaltar-me: “Senhores e senhoras, sejam bem-vindos a
Teresina, a bela capital do Piauí”.
Desci as escadas do voo 3882, caminhei lentamente
até a porta de desembarque e li a seguinte informação: “Quem sair por esta
porta não poderá retornar”. Esteticamente, recebi os dizeres como um convite à
permanência no local dos rios Poti e Parnaíba, ainda que passageira seja a
viagem paradisíaca.
Pessoas de todas as cores vão para todos os
lados, rostos piauienses, cearenses, recifenses, paulistas, goianos e troianos,
nem sei quantas almas estiveram diante de mim. Bem que eu desejei escrever um
poema, leitor. Porém, o fio que tece as minhas memórias é mais prosaico.
Aproximei de uma companhia de táxi e comprei
um ticket para o Hotel Pio, na Avenida do Centenário e perguntei: “É perto?” A
moça não respondeu com palavras. Somente gesticulou com as mãos: “mais ou
menos”. Retirei treze reais e entreguei à moça. Concomitantemente, um
estrangeiro pede um táxi para o Bairro Pirajá e paga os mesmos contos de réis.
Olho a moça loira chupando chiclete e a fila andando. Misturo ao estrangeiro
com a sensação de ser um personagem de Albert Camus. Noto o fio do riso nos
lábios da moça e quase indaguei: “A senhorita está a rir de mim ou do
estrangeiro?” Calei, escolhendo seguir o meu destino para regar as minhas
rosas.
O motorista, com as mãos na cabeça e com ar
de incredulidade, comentou: “Nossa, a senhora está somente com esses livros e
poderia ir caminhando. Olhe lá o hotel”. Esqueci-me da elegância e, como sou
filha de Deus, soltei um famoso: “Filha da puta”.
Só agora compreendi o riso da moça do
chiclete. Aprendi que os livros abrem caminhos, desencadeiam risos e a
imaginação. Porém, eles não possuem GPS e nem nos mostram quando seremos
assaltados propositalmente, ainda que seja na beleza de uma terra maravilhosa
que é o Piauí.
Enfim, cheguei ao lugar desejado no tempo de
um minuto que custou treze contos. Lamentei o fato de que nunca ganharei treze
contos de réis por minuto enquanto for professora. E muito menos como poeta.
Enfim, logo à minha espera estava um menino com cabelos pretos tal como negro
preto, cor da noite. Intertexto que caso com Negro preto, cor da noite, do poeta Afro-Brasileiro Lino Guedes
lido por mim no voo entre Goiânia e Brasília. O menino também não se conteve
quando narrei o fato. Desabrochou o fio do riso em Teresina.
Dia seguinte, encontrei-me com uma professora
de Porto Alegre com os olhos azuis da cor do mar e a minha narrativa
identificou-se com a dela. Soltamos o fio do riso e indignamos com a falta de
bom senso da informante do ticket no aeroporto.
Logo mais à tarde, meus pés desfilavam numa
palhoça a sentir o gosto típico de um prato à moda caseira. Na palhoça, eu que
sou observadora e sensível, li a cor do riso de um moço com a pele marcada pelo
sol teresinense, cuja pele dos pés abria-se pela dor, como alguém que bebeu a
secura do cruel destino nas ruas ou na beira das pedras. Pensei: “Prosaico era
o fio do riso da moça loira chupando chiclete feito vaca no capim molhado, ao
passo que poético era o sorriso gordo e aberto do menino magro”. Era um sorriso
enriquecedor. Traduzia uma luz germinada do fundo da alma.
Sobrevoei ao retorno de minhas raízes e todas essas imagens foram se mesclando entre a veia lírica das águas e as nuvens do céu. O fio do riso tornou-se pequeno em seu fio narrativo e diante da poesia abraçada ao fio celeste das águas piauienses e o sorriso sagrado do menino piauiense cor da noite.
Sobrevoei ao retorno de minhas raízes e todas essas imagens foram se mesclando entre a veia lírica das águas e as nuvens do céu. O fio do riso tornou-se pequeno em seu fio narrativo e diante da poesia abraçada ao fio celeste das águas piauienses e o sorriso sagrado do menino piauiense cor da noite.
2 comentários:
Como poderei esquecer duma
Poeta dessa
que tem um poema consistente e
é segurada por outro grande poeta
e é uma trabalhadora do poema!
Vou voltar, logo.
Luiz Alfredo - poeta
Não adianta esquecer de mim, eu não esqueço de você. Nem dos poemas.Quer mais?
Beijos no seu coração
francisco miguel de moura
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