Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

terça-feira, 12 de maio de 2009

POR QUE ESCREVO OU POR QUE ESCREVER?
















Escrevo porque sou como um prometeu acorrentado pelas letras. Ora, não há como soltar as algemas das mãos que buscam a profecia poética e o discurso prosaico. Escrever é aprisionar-se e querer estar preso por vontade. É servir a quem busca saciar a sede de palavras.Escrevo para certificar a cor do orgasmo que todos os dias procura sair da memória em busca do encontro erótico com o papel. Escrevo para "gozar no papel" e a lesma "gosmar na gente", como faz Manoel de Barros. Escrevo por genuíno erotismo porque a linguagem é corpo.Escrevo porque uma força epifânica e intensa me leva ao paraíso e ao mesmo tempo ao inferno de Dante. Escrevo porque tenho a paciência de Virgílio e a esperança de Penélope na busca da completude lírica. Escrevo porque navergar é preciso. Escrevo porque não sou nada e tenho em mim todos os sonhos do mundo. Sonhando eu posso lutar com as palavras que me acariciam em doce regozijo. Escrevo porque sei que terá sempre um leitor com sede de metalinguagem. Sempre haverá alguém que virá às minhas páginas em busca de pão e fonema. Escrevo para fazer as palavras ocas boiarem no alguidar e depois selecionar o ínfimo para sentir-me grande no ato da crítica que é metalinguagem, ao estilo de João Cabral de Melo Neto.Escrevo para provar ao mundo e a mim mesma que nasci com o dom das palavras e são elas que iluminam a minha vida no universo livresco. São de palavras que vivo. Ou vivo exatamente porque tenho que escrever. Escrevo para sobreviver. Escrevo porque sou nômade e encontro na minha assoberbada vida de professora, um minuto de orgasmo e contemplação do ócio Não há nada melhor para as minhas mãos envelhecidas, saber que arranho os céus, por excelência, quando escrevo. E ainda me perguntam por que escrevo? Será que há respostas? Sei apenas que escrever, como diria José Saramago, é garantir que se está vivo. "Escrevo para não morrer", disse ele. Como morrer sem deixar algo escrito? A minha imortalidade está aqui nesta página branca e não na Academia Brasileira de Letras. Sou imortal. Não morrerei porque nasci para encantar, como disse Guimarães Rosa, "as pessoas nunca morrem, ficam encantadas". É por causa desse encantamento, da seduçao, do ego e da vaidade que escrevo sempre para tornar-me o Ser no tempo existencial.Escrevo um poema em poucos minutos e depois trabalho verso por verso, viro o mundo do avesso e fico com o gozo da poiésis. Às vezes me dão temas para escrever e aceitar a um desafio entre mais de trinta mil que escrevem em diversos gêneros textuais. Sinto o gosto do vinho afrodisíaco das palavras que não saem quando quero falar, mas borbulham sem parar quando escrevo. Logo, rasgo a "folha branca e asséptica" e começo a rebentar palavras. Escrevo três crônicas e elas vão para as coletâneas das 100 melhores redações de professores premiados pela ABL e eu fico com o orgasmo na ponta do meu lápis, pensando em escrever mais uma história "para provar que sou sublime". E ainda me desafiam com a pergunta "por que escrevo?". "Ora essa": escrevo porque sempre terá um leitor que sentirá comigo o orgasmo absoluto da palavra a procura da poesia que "tem mil faces secretas sob a face neutra", conforme bebi agora mesmo em Carlos Drummond de Andrade para provar que não nasci em Itabira, não obstante, nasci gauche para falar e vim ao mundo para escrever esta e outras histórias. Em suma, escrevo porque escrever é descobrir o interminável sempre.
Leia este texto e outros de Rosidelma Fraga no endereço abaixo:LABORATÓRIO DE REDAÇÃO PROF. DÍLSON LAGES Baloon Center, Av. Pedro Almeida nº 60, Loja 21 (segundo piso)São Cristóvão - Teresina - Piauí - Fone (86) 3233 9444e-mail: dilsonlages@uol.com.br/www.dilsonlages.com.br.

2 comentários:

Isaac Ramos disse...

A escrita dos poetas é infinda assim como é infinita a solidão das palavras malditas. Não há coisa que perturbe mais o poeta do que o congestionamento das palavras não lidas. Desafoguemos o trânsito literário para que o rumor das palavras (des)encantem o (in)audível.

Anônimo disse...

Ainda bem que te encontrei nesta manhã azul
deste domingo de formula 1
alma melancolica no blog do binho
e você apareceu com uma taça espumante de poesia
tomei um espanto
pois teu canto vem numa nau grega
repleta de mito e poiesis
embriagada de vinho
declamada por aedos
de um tempo em que a razão filosófica era uma semente guardada
numa anfora afogada no mediterraneo
Estava lendo um livro de poesia de uma poeta cearense Risette Cabral Fernandes: Rosa de Sol um livro de 1974.
Ai voce estava no blog do meu mano Binho
Com seus poemas tecidos por vulcano e inspirado por Afrodite.

Ainda bem que tem uma poeta como você rolando nos blogs de domingo.

Luiz Alfredo