Em vão edificaram os tijolos
de cada porta que nunca se abriu.
A alma, por vezes, é janela fechada
É uma coluna que disseca
na mão do arquiteto.
Em vão espalharam os pedaços
de meu ser fragmentado nas calçadas,
nos terraços, nos jardins e nas praças públicas.
Em vão meus pés emigraram por toda parte
à procura dos edifícios sólidos.
Em vão entrei nos grandes templos
para ouvir a voz que sempre me calou.
Caminhei entre os espinhos e as pedras,
entre lixos e seres marginais...
E tudo isso foi mais útil que as coisas vãs.
Porque aprendi que em vão os grandes templos
e os astros se desabam na morada dos soberbos.
[Bem-aventurados os que creem em Deus
e não cantam as religiões.
Bem-aventurados os poetas, os bêbados
e crianças que amam e nunca sabem para onde vão]
Os poetas não absorvem as pedras dos arquitetos.
Os homens apedrejam em vão nas ruas, nos becos,
nas esquinas noturnas até o fim do mundo.
Em vão amaldiçoaram a minha existência
Porque todos que me atiraram pedras
não tiveram a grandeza e a sensibilidade.
Os soberbos não souberam ouvir as notas sacras,
nem a música do avesso da alma dos esquecidos que amei.
Em vão calaram para não tocar na voz silenciosa
que brotava a flor entre o lixo e a luxúria.
Em vão trabalharam os homens hipócritas
Porque eu fiquei como a criança sublime
que sorri da simples rosa amassada no meio do caminho.
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