Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ORFEU

 

Sangrando as mãos abrem-se
ao som da cítara,
com longas notas da ninfa
enlaçada pelo véu da serpente.

Das profundezas do Hades
meu canto em nebulosas vozes
vem soar para o firmamento.
Orfeu dorme, Senhor Deus
Orfeu nem olha para trás
Como fez a mulher de Ló.

Nem mesmo Virgílio
no meio dos versos proféticos
levar-me-ia às algemas emergentes...
Aristeu já está morto
Resta-me soltar as correntes e as dobras da morte
que encadeiam Orfeu...
Mas Orfeu eterniza-se no tempo de minhas memórias.
O passado é o tempo ininterrupto
É um minuto imensurável de eterna espera.
Como Eurídice, celebro a canção nupcial
submersa pela imortalidade de Orfeu em mim.