Por Rosidelma Fraga
O entusiasmo é uma força advinda dos deuses que se inspiravam na concepção de Ceres (deusa da agricultura). Para ela, a colheita seria favorável e benéfica se as pessoas tivessem o entusiasmo. Era preciso, antes de tudo, entusiasmar-se. Pode-se asseverar que o entusiasmo é diferente do otimismo, visto que o vocábulo significa acreditar que algo vai dar certo, ao passo que o entusiasmo consiste na perspectiva de crer em si próprio. Logo, entusiasmada é a pessoa que acredita na transformação da realidade através de atitudes positivas e encorajadoras e que, sobretudo, confia na força de vontade que as pessoas têm de transformar o mundo e, mormente, a própria educação.E você sabia? Segundo GEORGES (1995, p.35) só há uma maneira de ser entusiasmado: “é agir entusiasticamente! Se esperarmos ter condições ideais primeiro, para depois nos entusiasmarmos, (...) jamais nos entusiasmaremos. Não é o sucesso que traz entusiasmo, é o entusiasmo que traz o sucesso”.A partir dessa reflexão, neste momento, gostaria de perguntar a você digníssimo leitor, como vai seu entusiasmo pela literatura? Como vai seu entusiasmo para devorar os discursos machadianos, a narrativa brilhante de Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Lígia Fagundes Telles, Érico Veríssimo, Bernardo Guimarães, José de Alencar e outros cânones? Como vai o seu entusiasmo para navegar nos poemas de Camões, o poeta que ensinou a tantos e nunca envelheceu? Como vai o seu entusiasmo para se encantar com a poesia de Carlos Drummond de Andrade, de Fernando Pessoa, de João Cabral, das nossas goianas Cora Coralina, Yeda Schmaltz, dos inconfidentes mineiros, de Gonçalves Dias e outros grandes poetas que marcaram a literatura? Será que durante o curso você se entusiasmará em ler, por exemplo, as 445 páginas de O Evangelho Segundo Jesus Cristo de José Saramago e depois procurar uma outra obra para contrastes? Ler os fantásticos Murilo Rubião, José J. Veiga e tantos mais? Ou ler ainda toda dramaturgia de Shakespeare, Nélson Rodrigues, o teatro de Gil Vicente, Martins Pena e tantos outros? Hum!...E como vai seu entusiasmo para comparar Eça de Queirós com o intitulado “ambíguo” Machado de Assis, ou a épica de Camões e Fernando Pessoa, ou com tantos autores que se dialogam na literatura? Ufa! Tudo isso! Tudo isso e muito mais é possível se você se olhar para dentro e acreditar no entusiasmo que carrega muito antes de saber.Tudo isso é uma gota perto do que você é capaz de saber, como escreveu o físico Isaac Newton: “o que sabemos é uma gota e o que ignoramos é um oceano”. Efetivamente, bem mais que isso é possível porque Fernando Pessoa grafou nos livros que “navegadores antigos tinham uma frase gloriosa/ navegar é preciso”. Navegar? Sim. Navegar no mundo da literatura só depende de você com sua visão crítica sobre o entusiasmo. Acredite e aceite o desafio! Pense rápido e decida rápido. Ou ficará sozinho para trás vendo a ascensão intelectual dos outros. Pegue dois, três, quatro e muitos livros e comece a deliciar-se pela intimidade das palavras, por intermédio do entusiasmo que existe dentro de você. Aceite rapidamente o ensinamento de Drummond “as palavras têm mil faces secretas sob a face neutra”. Penetre na poesia. Leia Drummond e descubra pelo menos as cem faces e já estará transformando a injustiça da estimativa de que os brasileiros lêem dois livros por ano. Está nas suas mãos, futuro educador, contribuir com a mudança e aceitar entusiasticamente que a leitura é uma herança milhões e bilhões de vezes acima da dívida externa brasileira.No final do eterno recomeço, tu verás que diante dos simples gestos haverá uma enorme gama de conhecimentos adquiridos que nem mesmo o iceberg, destruidor de O Titanic, e os grandes “mares nunca dantes navegados” de Camões ser-lhe-ão capazes de roubar de ti. E o triunfo maior de todo esse entusiasmo será o fato de viver melhor, sorrir e sentir-se novo quando alguém olha para ti e pensa que envelhecestes, conforme ironiza o poeta Manoel de Barros, numa entrevista ao MTTV: “quem disse que sou velho? Eu não sou da terceira idade porque lendo e escrevendo palavras descobri que agora, aos 90 anos, entrei para a terceira infância!”.
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(Texto da professora Rosidelma Fraga, escrito, em partes, para ex-alunos da Unemat e reescrito para os alunos da UFG/CAJ, publicado pelo Jornal Cidade de Jataí.)