(Ao poeta Dante Gatto -
Em certo dia, na encarnação de um eu-lírico).
Tudo será estranhamento
o dia em que tua morte chegar.
o dia em que tua morte chegar.
A luz do dia será a treva
consumindo-se diante de mim.
Todas irão arranhar a tua pele a suplicar que não vá.
Eu não estarei por perto certamente.
Minha ausência flutuante será mais estranha
Que os vermes de Brás
Cubas em delírios.
A valsa fúnebre como um Réquiem te seguirá.
A luz não dará mais a luz.
Todas irão embora
olhando para trás
como alguém que viveu e se perdeu.
Minha ausência contemplará o grito final.
Depois da noite a luz será o dia seguinte.
A ausência tua ficará embebida no lençol
E o teu cheiro suado irá ser estranho.
Ficarei aqui querendo ser a Terra.
Todas irão embora e eu quem não chorou...
Eu quem sempre esteve ausente, prantearei.
Beijarei os teus pés como quem amou sempre e nunca se perdeu.
Não terei o encontro absoluto porque poetas nunca amam...
E a minha poesia não canta
o tema banal do amor.
Não obstante, rasgarei a palavra do barro
Extrairei toda a minha saudade e estarei sorrindo e gritando
Porque, afinal, meu amor, todas as tuas amantes partiram...
E eu quem nunca o abracei
e nunca o beijei
Estive e estarei contigo
ao chão do silêncio...
O mesmo silêncio que é a
gente demais.