Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

OLHAR ABSTRATO


Se acaso o menino
tocar a campainha,
pedir pão e chiclete
feito cão sem pele.

Se acaso a mulher
abrir a porta
e não disser nada...
Ficarei muda e inerte
da janela de meu beco
como Branca de Neve no espelho.

Se acaso ouvir os miseráveis
arrastarem à minha fonte
de água e sabão,
saltarei de asas para o ar
e darei as costas para o infinito.

Depois voltarei aqui na folha branca,
sentindo o olhar e o toque do menino.
Olharei da janela abstrata
a fome do mendigo qual cão sem palavras.
A minha alma sairá de mim aos prantos líricos
como alguém que perdeu a pessoa amada.

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