Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

domingo, 3 de maio de 2009

Roteiro das mãos

Que tenho afinal além das mãos?
mãos frias e castigadas de tempo.
mãos sonolentas, sensuais e espirituais.
Tempo e templo em tempos de poesia
são a poesia que inunda-me os dedos celestes,
dedos longos, amalgamados nas mãos.


As mãos sacodem os galhos verdes mui atrevidos...
Audaciosos os galhos percorrem meu corpo.
Minhas mãos são matéria sedenta por palavras


Tenho apenas as mãos que seguem um manual:
São mãos para as teclas negras do piano,
Mãos para tocar a palavra do avesso,
Mãos para afagar e acariciar o dorso do tigre,
Mãos selvagens no afã de cada poesia que espera ser escrita,
Mãos que não participam da guerra,
apenas tocam a nudez de cada sílaba e cada nota.


Eis, leitor, as minhas mãos.
Vinde, vede e observe-as: são duas mãos.
Simplesmente duas mãos que zombam,
rasgam, apertam, escrevem e falam em todo tempo.
Para que tanto valor às mãos?
Para que tanta palavra para dizê-las?
Sim. Preciso de palavra poética para falar das mãos
Palavras de poeta nunca dizem o valor das mãos
Passo a vida inteira e vem a água e apaga a metáfora das mãos
Escrevi sobre seu valor na areia da praia.
Penso que ninguém fala delas no mundo epifânico da poesia.
Porém, meu leitor, eu louvo-as sempiternamente no poema
porque as palavras partiram e as minhas mãos ficaram.

Rosidelma Fraga.

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